A FADISTA

A FADISTA

É tão triste a canção que, só, eu canto,

Que me espanto d’haver alguém tão triste.

Nem sei se uma tristeza assim existe

Ou se o canto é também forma de pranto.

Chego a duvidar que se chore tanto

E, entretanto, entretém-se quem insiste

Em ter de sua dor estranho chiste,

A cantar tão agudo a alma em quebranto.

Traz de sua tristeza uma alegria

Quem como eu ama mal e em demasia

Para lamentar com alto e bom tom.

Porém -- digo por mim -- tal dor é dom:

Saber sofrer e ter prazer c’o som

Torna mais leve a pena a cada dia.

Betim - 18 04 2013