Fé
Do alto da Igreja de Santana
Um sino às seis da tarde faz zoada;
E logo uma senhora encabulada,
Cumprindo o seu papel de puritana,
Cochicha alguma reza emocionada,
Agarra uma santinha em porcelana,
E, tendo a vista toda embaralhada,
Pinta o langor da intensa fé humana.
Notei cada detalhe do meu canto
Calado, ouvindo o sino, olhando a tarde
cair clonando o choro da mulher...
Achei nesse momento sacrossanto
- ainda que eu questione a santidade -
Um monte de razão para ter fé.