Auto Retrato
Lá nos confins do mais bruto sertão,
Nasci, o quinto do cacho com nove,
Mirrado, vesgo, quase aberração,
Vingado em fé que montanha remove.
Herança de pai, um bom coração,
Da mãe, a garra pelo que é seu
Dos dois, a crença na religião
Que a vida apagou; tornei-me um ateu.
Com trabalho, nesta vida sofrida
Amei e odiei; vingança, eu prometo,
Não tive nem terei ma minha vida.
Eis me aqui, já claudicante, abstrato
Dedilhando as rimas deste soneto
Desenhando assim este auto-retrato.