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OLHOS OFÍDICOS [593]
 


Não me farejes como um cão de caça,
bela mulher de olhares peçonhentos!
Esses teus olhos são-me tão atentos,
que penetrantes seguem-me de graça.
 

À noite, teu luzeiro bem me laça,
em meu noturno ser marcando tentos
e acende fogaréus em mim violentos
e na minha alma faz geral devassa.
 

Ofídicos, teus olhos me envenenam,
contudo já sequer letais me apenam,
porque me embuçam de vital ternura.
 

Como atalaia, teu olhar me cobra:
é tudo o mais que de lençol me sobra
para de sóis cobrir-me a criatura.
 

Fort., 30/07/2015.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 30/07/2015
Código do texto: T5328770
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