FLORBELA

Para Florbela Espanca, poetisa portuguesa depois de assistir o filme sobre a sua vida.

Florbela cantou tudo àquilo que chora

A dor por perder, o túmulo, a saudade,

Nunca compreendeu de a morte ter hora,

E a sua chegaria mais cedo ou mais tarde.

Hipnotizada pelo fumo de aurora a aurora

Pelos rubores reprimidos da sensualidade,

Muitos medos se tatuaram nessa senhora

Temerosa de ser crucificada pela vaidade.

Mesmo se atirando no fundo do poço,

O afogamento ocorrerá pelo desgosto,

Quando nos desgarramos das certezas.

Florbela perdeu todas as suas nas rimas,

Fez dos seus sonetos vida, script e sina,

E no fim, se permitiu morrer de tristeza.