Soneto da vida mórbida
Horas depois do efeito do veneno,
O corpo do suicida estava estirado
Sobre a calçada imunda
Daquela rua deserta.
Poucos carros passavam,
E simplesmente não havia testemunhas
Para assistir àquela cena dramática.
Apenas os micro-organismos agiam,
Cumprindo seu papel na cadeia alimentar
E desfalecendo a carne ainda quente
Daquele que desprezava a vida por medo de sofrer.
Certamente a vida irradiava
Daqueles seres imundos
Mais que do homem que fugia do sofrimento.
*Texto integrante da antologia Inverno Sombrio, publicada em ebook pela Três Macacos Publicações.