Carvão

Vou lapidar minha poesia marginal.

Quebrar as pedras que não servem no colar,

Romper serenos e luares, garimpar,

Até encontrar um outro verso, outro mal.

E mancharei toda brancura do rascunho,

Sem nenhum dó e nem piedade do poema.

Vou resgatar todos fantasmas, e um tema

Que esteja além da mera escrita do meu punho.

Depois, no fogo que há nos sonhos aquecer

Todas as linhas que surgirem no final.

E quando enfim vier o tempo crucial,

Juntar as cinzas do que já não é meu ser.

E se outra brasa, outra chama eu encontrar,

Apagarei, por fim, meus sonhos, meu luar.