LIRA D’ORFEU

LIRA D’ORFEU

Trazia uma canção dentro de si

Feita de melancólica ternura.

Cantando longe, sua voz tão pura

Pelo suave do tom, reconheci.

E a memória sonora do que ouvi

Ressoa agora à noite mais escura,

Remediando-me a tão grande amargura

Com que tenho vivido e que vivi.

Não fosse esse cantar, sequer lembrança

Teria d’algum bem ou ‘inda esperança

De rever luz n’essas trevas sem fim.

Pois, já nada vislumbro em meio a dor.

Se sigo, é porque os versos sei de cor

Da música que alguém cantou p’ra mim.

Betim - 18 09 2008