MIGO COMIGO
MIGO COMIGO
Costumava falar sempre sozinho,
Embora parecesse uma loucura.
A despeito d’excêntrica postura,
Dando voz às ideias que em mim alinho.
Solidão que me fez de mim mesquinho,
Ou antes, conhecimento que procura
Verbalizar-se à noite mais escura
Por meu vasto deserto se caminho.
Penso ser uma espécie de pleonasmo:
Migo comigo, isto é, eu pensar alto,
Falando-e-ouvindo com só entusiasmo.
Chamo como eu quiser! Visto o marasmo
Estar sempre no espírito que, incauto,
Eleva a voz se tudo mais é falto.
Belo Horizonte – 06 06 2005