Soneto ao Grito
Livre, ele relutava no observatório de estrelas
Torceu, remoeu, reivindicou dentro de mim
No estômago diverte, faz arte com borboletas
És fortaleza, escorre lágrimas silenciosas sem fim
Se grito tivesse gosto, degustaria como alecrim
Se tivesse tom, viria assustado fingindo ser agudo
Se tivesse cor, talvez azul, preto, roxo ou violeta
Se tivesse textura, deleitava-se como nobre cetim
Silencioso grito, órfão de palavras e sons contusos
Nasce afônico, almeja timbres de velhas cornetas
Faz palpitar de mansinho o peito, doloroso e obscuro
Grito abortado na alma, perdedor do jogo da satisfação
Tortura a alma, pinga fogo sendo verbo penetrante
Clandestino substantivo, voluntário e pobre de razão