Realismo

Saibas que jamais amei a ti, somente.

Tive um gato, um cachorro e um cobertor.

Tive sarampo, já experimentei um ardor

Maior do que qualquer paixão ardente.

Tenho sonhos, sim, mas não os lembro.

Como não sei do jardim ou das flores,

E sei menos ainda das tuas dores,

Como lembrar que estamos em setembro?

Não sei p’ra que saber da primavera

Se sou assim tão comum, tão pequeno.

Saibas tu que jamais fui tão sereno

E que sinto viver em outra era.

Mas sou assim, como vês, como sentes:

Uma cova, repleta de sementes.