Augusto dos Anjos.
A dança da psique
A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombara, cedendo à ação de ignotos pesos!
É então que a vaga dos instintos presos
- Mãe de esterilidades e cansaços -
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos.
Subitamente a cerebral coréia
Pára. O cosmos sintético da Idéia
Surge. Emoções extraordinárias sinto...
Arranco do meu crânio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!
Augusto dos Anjos
(1884-1914)
(Desculpem a petulância, amigos, pelo soneto a seguir)
Minha alma, meu instinto, o meu cérebro!
Cabeça, mãos e pés, a qual atendem?
Tentando ir pra um lado, pra outro tendem
Num vai e vem sem fim neste requebro,
Tento a emoção, às vezes me quebro.
Instinto e alma nem sempre se entendem,
Razão pergunta então: O que pretendem?
E o cérebro a explodir em tanto crebro.
O corpo a padecer em mil espasmos
Em meio a confusões sobram marasmos,
Busca forças o cérebro pra interagir,
Somando-se com razão, pra eu existir,
e tentam por as coisas no lugar:
Cabeça, tronco e membros equilibrar.
Josérobertodecastropalácio