Língua de Fogo

Língua de Fogo

Jorge Linhaça

Não queiram, de mim, angélicos versos,

pois que, confesso, do fundo da alma,

o que me acalma, são versos perversos

que o universo, na pena, me espalma

Não que o lirismo não tenha reflexos

neste meu estro que ora s'inflama.

Posto que é chama, voraz e complexo,

de cada verso se faz uma trama.

Língua de fogo podeis me chamar

vate maldito, tal qual ao Gregório,

Inda que ao bardo não possa igualar.

Vivemos, os dois, mesmo purgatório

de nossa pena não saber calar

ante os desmandos dos nobres finórios.