Soneto de quase abril
É quase abril, e o tempo é um carrasco
que sem pudor vem nos roubar os dias.
E as horas vis são quais vilãs vadias,
Deitadas, nuas, no alto de um penhasco.
É quase abril, e a vida é só um tasco;
Um só pedaço para mil fatias.
Vão-se os Salás, vão-se as Ave-Marias,
Joga-se ao vento o nosso pó de um frasco.
Mas os amores, deuses infindáveis,
Dão-nos o céu, e como afoitas aves
Nós vamos livres, soltos e incessantes
Porque no amor o tempo é um pai perfeito,
Que, em suma herança, rebuscou um jeito
De eternizar as almas dos amantes.