Soneto de quase abril

É quase abril, e o tempo é um carrasco

que sem pudor vem nos roubar os dias.

E as horas vis são quais vilãs vadias,

Deitadas, nuas, no alto de um penhasco.

É quase abril, e a vida é só um tasco;

Um só pedaço para mil fatias.

Vão-se os Salás, vão-se as Ave-Marias,

Joga-se ao vento o nosso pó de um frasco.

Mas os amores, deuses infindáveis,

Dão-nos o céu, e como afoitas aves

Nós vamos livres, soltos e incessantes

Porque no amor o tempo é um pai perfeito,

Que, em suma herança, rebuscou um jeito

De eternizar as almas dos amantes.

Alex Olliveira
Enviado por Alex Olliveira em 20/03/2015
Reeditado em 24/03/2015
Código do texto: T5177280
Classificação de conteúdo: seguro