Soneto de Ida

Ainda que eu não possa ficar velho,

Moldarei, no calor e na ternura,

Que tenho em seus braços, oh criatura,

A sombra da vida em que me espelho.

Se é noite enfim, vem aqui para o lado,

Descansa seu sonho, revive sua voz.

Deixe para trás a vogal entre nós

Que o amanhã será um vulto passado.

Ainda que eu não possa ser espelho,

Veja em meu ver a vida que não sai,

Tenha em meu ser, a chuva que agora cai,

Brinde o encontro do azul com vermelho.

Porque não há volta, enfim, desta ida,

Já que não vou sem dar-lhe minha vida.