PROSOPEIA

PROSOPEIA

Entreabri a janela do meu quarto

E as cortinas puseram-se a dançar

Revoltamente, enquanto renova o ar

A lufada de vento em que me farto.

Lá fora, a pleno sol, vejo um lagarto

Parado sobre o muro a se esquentar.

Parecia d’algum modo esperar

Por velhas ilusões que em vão comparto.

Nada tinha a dizer-lhe, todavia.

Senão que a luz intensa d’este dia

Tornava seu semblante quase humano.

Balançou a cabeça, concordando.

E chegava a sorrir de vez em quando

Como se me entendesse o desengano.

                  Betim - 24 08 2014