O CABURÉ

Lá fora, sobre as árvores, tristonho,

Emite o caburé seu terno pio,

De dia e à noite inteira, no medonho

Escuro ou ao luar, no inverno frio.

Atento, na campestre paz, me ponho

A ouvir o caburé, horas a fio.

E calo, e penso, e verso, e vivo, e sonho.

Da atroz agitação me refugio.

Que bom, à noite, à tarde e na matina,

Ouvir dessa avezinha de rapina

O pio cheio de suavidade!

Que pena! Quando se despede o inverno,

Leva do caburé o pio terno

E deixa na minh’alma uma saudade.