TORTURA

Tirar dentro do peito a Emoção,

A lúcida Verdade, o Sentimento!

-- E ser, depois de vir do coração,

Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,

E puro como um ritmo de oração!

-- E ser, depois de vir do coração,

O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:

Rimas perdidas, vendavais dispersos,

Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,

O verso altivo e forte, estranho e duro,

Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Florbela Espanca

Paola Bittencourt
Enviado por Paola Bittencourt em 04/06/2007
Código do texto: T514060