Em busca de mim

Ó Deus! Que sou senão errante menino incrustado num

[mundo perverso?

Quem sou, ó Deus, senão mísero incipiente que por acaso

[chora aqui neste verso?

Por que temo mostrar-me, revelar minha angústia,

se o mundo, assim como o fizemos, não mais vive a poesia?

Mostrar-me! Não, não quero.

Revelar minha angústia! Não, não posso.

Que dirão de mim aqueles que desvendarem meus segredos

[eternos;

Que da vida, minha vida, descobrirem os opróbrios?

Deus, como posso mostrar-me, fugindo,

se a vida, minha vida, solta em mim, está indo –

[vai indo, obrigado.

Ao olhar-me no espelho

minha imagem não me permite que a toque.

E eu – idiota! – fico a buscar raios divergentes

[que se formam atrás do espelho –

doce e virtual ilusão a invadir-me, esmagando-me,

[por inteiro, o coração.

Se de mim não posso sequer tocar a imagem,

como lutar, ir de encontro aos concretos tiranos

que vivem, iludem e esbanjam as riquezas advindas

[do mal revelado?

Por que eu, ó Sociedade Torpe, – mísero incipiente –

[devo mostrar-lhes minha alma?

Se o mundo, assim como o fizemos, venera seus vilões,

[martirizando seus mais doces heróis?

Está tudo tão claro...

Providências!

Não! Não podem... Paciência.

Não, Deus! Não me vou mostrar.

Prefiro calar – silenciar minha voz,

após o desabafo.

Fortaleza, 13h40min