Harpia
 
Andei sonhando mais do que eu devia,
e agora estou aqui – de asas quebradas –
sem ter comigo as prendas tão sonhadas,
repleta de vazios.  Pobre harpia
 
que alto planou, com asas envergadas,
buscando o resplendor da serrania,
os cumes, onde reina a calmaria,
olhar de lince, unhas aguçadas.
 
Sonhar, voar planando nas alturas
para tombar no chão das desventuras
sem alcançar os tão sonhados cumes. 
 
Mas como não sonhar, planar nos céus?
Como viver incréu entre os incréus?
Ficam nos ninhos pássaros implumes.

Absinto e Mel, pg. 13
Sonetos selecionados, pg. 103
 

 
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 26/01/2015
Reeditado em 19/06/2020
Código do texto: T5115153
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