ALTO RETRATO
Pincéis limpos, olhos bassos
Tudo o que fui o devia ter sido
Desfeito em cinzas de um cigarro apagado
Pedaço de sonho, diluído em perfume barato
Gavetas vomitando uma história perdida
A luz fria contornando a aridez e o cansaço
Me desenho como sou, o inverno, o descaso
Alicerce forte de cume corroído
A cabeça explodindo, o corpo alquebrado
A fúria e a musa me tomam de par
Perdido em estrelas, sem rumo, sem lar
Num quarto, na chuva, buscando medida
Componho de mim, meu alto retrato
Distante que sou, do fundo onde estou
P.S.: Soneto invertido, para ser lido em dois sentidos.