CAVALO À SOLTA, MEU SONETO
Abro de par em par a artística janela
Por onde se admiram laivos de cultura
E o que vejo de imediato através dela
É apenas um soneto ávido de aventura.
Acenei-lhe catorze vezes com brandura
Pelo amplo horizonte de uma luz singela
Mas disse-me com forte voz e desenvoltura:
“Eu, sou eu e mais eu, o resto é bagatela”!
E qual cavalo à solta, confiante no roteiro,
Rasgando a tradição com mão abrasadora,
Fiz de aposta chegar ao cume bem primeiro…
Ó metro escansional, ó rima sem primor,
Labirinto versial vestido de penhora,
Quando é que deixas de ser do poeta horror?
Quero em mim, ó tirano, ´stilhaçar algemas
P´ ra respirar desta janela o meu ar puro
E, sendo livres para sempre os meus poemas,
Possa tornar-me com a lira mais seguro.
O teu drama, ó Soneto, não mora na poética
Mora por certo, sim, na teimosia estética!
Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE