O desejo que cultivo
O desejo que cultivo é tão gigante
que não cabe n'alma há tanto desejada,
que se explode em todo canto, a todo instante,
que não tem distância e tempo, nada... nada...
O desejo que cultivo tão constante
é façanha pela vida aqui plantada,
é vontade de saber sempre o bastante,
é carência de quem ama a musa errada.
O desejo que cultivo, embora imenso,
pode ser a embriaguez mortal do vício,
pode ser a certeza de que vivo e penso.
O desejo que semeio — e que cultivo! —
é tamanho como a morte e só por isso
tem poder para manter-me ainda vivo.
Cruzeiro do Oeste-PR, 1984