SONETO DESIMPORTANTE

Sou sempre poesia. Às vezes chegada.
Na mochila partidas, perdas, suspeitas
intrigas. Que além de ti não há nada.
Consulto almanaques, tarôs, receitas

e tudo não está lá. Penso que jamais irei
à estação do último trem. Então, fico
entre retratos na parede que herdei.
Resto-me em coisas que não identifico.

Sou antes teu corpo, saudade, ausência,
sobras de manhãs, o banco da estação,
a viagem, a sutil e discreta demência.

Partimos sem a necessária despedida,
sem a frase final, o adeus, o não.
Fiquei destilando a poesia indevida.