ARDO E TARDO

Ardo em febre. Reconsidero o apocalipse.
Anjos maus viajam em sombras pelo quarto.
Meus sentimentos vagam na torta elipse
do tempo: ora sei que fico, ora sei que parto.

Se fico, vens. Se parto, ainda te procuro.
Dói-me demais teu silêncio inocente.
Saio da cama e ando às tontas, pelo escuro,
te querendo como sempre foste, indecente.

Ardo em fantasias. Outra vez repenso a volta.
Convoco anjos alados, de muito além da lua,
que a viagem assusta e requer divina escolta.

Tardo em preparativos. No medo, raia a manhã.
Apresso-me no inútil desejo de ainda ver-te nua,
antes que a febre se dissipe e a alma fique sã.

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