CORAÇÃO DE POETA

Meu coração se decompõe nos labirintos
da paixão. Sou inválido prestes ao resgate
da fêmea primeira e seus absintos.
Um discreto sorriso já me abate.

Resisto apenas na ingênua prepotência
dos fracos que espiam amanheceres
sem a dor da noite, sem a vivência
indecisa que dispensa do poeta deveres.

Desconfio, sempre, de meu coração:
basta um ombro desnudo e o segundo
olhar para que tudo seja uma sugestão.

Lá se vai, então, a indiscreta fantasia.
Reinventa as tardes, perfuma o mundo,
submete verdades, reconstrói o dia.