03 - A COTOVIA DO CALVÁRIO
Jesus de Nazaré cravado no madeiro
Por uma lei austera de vã hipocrisia
Agonizava exangue, mais que em demasia,
Chegada a hora do seu suspiro derradeiro.
Escutou-se um trinado de uma cotovia,
Que ao voar por ali, pousando num espinheiro,
Testemunhou languidamente o tempo inteiro
O dramático horror daquela cobardia.
- “Eli, Eli, lama sabacthani” - ouviu a ave,
E, voando de imediato para a negra trave
Tentou tirar com o bico, à sua maneira,
Aqueles cravos espetados na madeira…
Ao sentir de Jesus o último lamento
Caiu a ave, lá do alto em estertores
A piar de agonia e duro sofrimento,
No manto acolhedor daquela Mãe das Dores.
À mesma hora, pla angústia e sede que passou,
Dizem que a cotovia nunca mais cantou!...
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA