03 - A COTOVIA DO CALVÁRIO

Jesus de Nazaré cravado no madeiro

Por uma lei austera de vã hipocrisia

Agonizava exangue, mais que em demasia,

Chegada a hora do seu suspiro derradeiro.

Escutou-se um trinado de uma cotovia,

Que ao voar por ali, pousando num espinheiro,

Testemunhou languidamente o tempo inteiro

O dramático horror daquela cobardia.

- “Eli, Eli, lama sabacthani” - ouviu a ave,

E, voando de imediato para a negra trave

Tentou tirar com o bico, à sua maneira,

Aqueles cravos espetados na madeira…

Ao sentir de Jesus o último lamento

Caiu a ave, lá do alto em estertores

A piar de agonia e duro sofrimento,

No manto acolhedor daquela Mãe das Dores.

À mesma hora, pla angústia e sede que passou,

Dizem que a cotovia nunca mais cantou!...

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 24/10/2014
Código do texto: T5010867
Classificação de conteúdo: seguro