Servidão
A cortina na janela é o espaço
entre o mundo e essa nossa solidão.
E se a brisa esvoaça em lassidão
além donde alcança nosso braço,
somos apenas o aceno que a mão
joga e no vento oculta seu abraço.
Enquanto se solta o inútil laço
que espreita as sombras da insinuação,
essa veneziana flor de indiscrição,
debruçada no decote do terraço
busca em nós restos de indignação.
Cicatrizes de ironia passo a passo
não rompem os grilhões da servidão,
só nutrem nosso êxito ou fracasso.