Restos de um coração
Escuta-se pela fria noite nevoenta
onde meu velho coração se toma por abrigo,
o som de passos e de um gonzo retinido,
e rangem tábuas de que o musgo se alimenta.
Se por acaso algum dia andar perdido,
não faça sua pousada nessa ruína turbulenta;
e ouvindo ao longe o pio de uma ave agourenta
detenha-se em prece no cruzeiro apodrecido.
Chamado pelo destino for abrir a porta
e conhecer o que restou dessa morada,
em profunda dor te prostrarás exangue.
Fugirias, com certeza, pela estrada morta,
pois verias o sonho e a esperança decepada
e o amor em meio à hera sufocado em sangue.