SOBRE O CHÃO
Sozinho se arrasta na vida gosmenta;
a voz ressequida, graveto queimado,
espeta, retine por dentro e lamenta
a morte que o olhar denuncia de enfado.
Cansou-se da espera, esperança de encanto,
não mais imagina amanhãs de brinquedo,
porque betumaram-lhe o sol tanto e tanto,
que a estrela irradia somente ais de medo.
E nesse arrastar-se pegado na terra,
sentindo a frialdade do abrigo final,
percebe, de súbito, o horror de não ser.
E rapidamente arrebenta o que emperra
a sua existência ligeira e mortal,
erguendo-se audaz, decidido a viver.