FERIMENTO

Era ele criança - inda sonhava
Era ele um incauto - não sabia
O quanto desumano carregava
O coração do mundo em que vivia.

Era apenas menino e de repente
A veste negra, o genuflexório
O joelho esfolado, o ferro quente
E o pranto em solidão no dormitório.

No quarto escuro, a fome, o sangue, o medo
As sevícias guardadas em segredo
O ardor nas mãos, o grito, a palmatória

Ainda hoje, já homem maduro
Remói nalma o ferimento duro
Jamais cicatrizado em sua história.

Oldney Lopes©


Brumadinho, 21 de setembro de 2014.