A CRIAÇÃO - Em quatro Sonetos

SONETO I - O "Caos"

Ao desprender-se de um caos intenso

Fez do calor que havia, o coração

Fervendo a sopa feita em profusão

Da nebulosa surge o corpo denso...

Daquele caos, tempestuoso, imenso

Na acidez das chuvas um trovão

A voz do "Caos" em sua ordenação:

E faça o céu e a terra, e o ar propenso...!

Viu-se surgir uma bolha d'água pura

E vir brotar das cinzas, rocha dura

E o protoplasma assim se dividir...

Depois no tempo longo a colidir

E o sentimento em tudo se unir

O caos, tornou-se em paz, que só murmura...

SONETO II - O Mar

No mar por onde tudo começou

A turbidez da água se desfez

Em grandes sulcos pela terra... Eis!

Os oceanos que o "Caos" criou...

Surgiu no ciclo d'água que suou

Ao transformar as células por vez

A solidão na terra em escassez

E o unicelular ao mar saudou...

Multiplicando-se após nascidas

Convida a terra, sendo promovida

A novo abrigo vir se transformar...

Vivendo o grão na terra, ao respirar

Sementes de repente rompem o ar

E surge o verde, bem maior da vida...

SONETO III - Os Céus

Dos céus, olhar, que tudo vê em segredo

Com seu silêncio, e o bem se dividindo

Os dias passam num azul tão lindo

E a vida vai tecendo seu enredo...

Cedendo os ventos, roçam os arvoredos

Às brisas frias, noites vão surgindo

Ao dia e à noite, sejam vós bem-vindos

Nascidas asas, pássaros sem medo...

Ascendem vívidas as criaturas

Povoam cavas, campos e alturas

Com a beleza, pura e natural...

No sol se vê o abraço sideral

Na lua a noite, sombra bestial

Vigília e sono, em busca da ventura...

SONETO IV - A criatura

Um ser primata pela relva chora

O dia passa, vem a noite escura

Indevassado, à senda que procura

Encavernado ao medo, sem aurora...

Milênios passam, séculos afora

Até chegar aqui, aos nossos dias

E o homem traz o mal em romaria

Metáfora da dor, no riso mora...

O "Caos", o "creador", da maioria

No "acaso" que à nenhum privilegia...!

Perfeito! Continua a trabalhar...

Plantando sua semente em bom lugar

No coração do homem para amar

Que colherá o amor na eterna via...

Autor: André Pinheiro

19/08/2014