Janelas
Janelas circundadas de vitrais,
caleidoscópio azul por onde passa
esse filme de nuvens na vidraça
feito memória de uns tantos quintais
que povoaram minha infância. Luz baça
onde dormem as sombras e os florais
e canções de ninar e tudo o mais
que puder iludir minha desgraça.
Sou ressacas eternas e imorais,
na dissipada e vã vida devassa.
Se eu regressar aos ventres ancestrais,
como reconhecer-me na fumaça,
se um sambaqui de espinhos de corais
rasga-me e sangra os pés de carapaça?
(Publicado originalmente em janeiro de 2014 no www.algoadizer.com.br)