A MOLDURA

A MOLDURA

Silva Filho

Rua qualquer - casa, sala, um sofá

E alguém numa pose displicente

Só a pele sob a veste transparente

Mas meus olhos não ousam chegar lá.

Há um teto ouvindo alguns desejos

E a mobília lá no canto a cochichar

A parede sem um rosto pra mostrar

Um relógio que estala como beijos.

Passa o tempo, assim o tempo passa

E uma cena muito forte me enlaça

Mesmo sendo somente u’a ficção.

Como peça bem guardada – já sem cor

Uma moldura de sentimental valor

Bem que pode abrigar meu coração.