O BANDIDO
No cinzento de dentro e no imundo do asfalto,
perambula o bandido impreciso e sombrio;
planejando arrancar um alento em assalto,
ele lambe o punhal que afervora seu cio.
Tal detrito do mundo, indolente e arredio,
aprendeu a reagir sem qualquer sobressalto
a traições e prisões, em drogado fastio,
penetrando seu ódio aos que o miram lá do alto.
E prossegue chupado, arrancado de tudo,
cravejando no olhar a revolta, um escudo
que o defende do ataque ardiloso de amar.
Porque sabe, sentiu da existência na agrura,
que a febril realidade esbraseia a ternura;
só consegue viver o que aprende a matar.