O BANDIDO

No cinzento de dentro e no imundo do asfalto,

perambula o bandido impreciso e sombrio;

planejando arrancar um alento em assalto,

ele lambe o punhal que afervora seu cio.

Tal detrito do mundo, indolente e arredio,

aprendeu a reagir sem qualquer sobressalto

a traições e prisões, em drogado fastio,

penetrando seu ódio aos que o miram lá do alto.

E prossegue chupado, arrancado de tudo,

cravejando no olhar a revolta, um escudo

que o defende do ataque ardiloso de amar.

Porque sabe, sentiu da existência na agrura,

que a febril realidade esbraseia a ternura;

só consegue viver o que aprende a matar.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 12/08/2014
Reeditado em 12/08/2014
Código do texto: T4919493
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