ZODÍACO I a XII

DEAR FRIEND:

Por gentileza, veja no anexo o ppt AUSÊNCIAS I, criado por Síntia Mireli Rosa sobre o soneto homônimo de uma de minhas antigas séries. Meus últimos livros traduzidos foram Minha Luta (Mein Kampf) de Adolf Hitler, do original alemão, com longos comentários em inglês da primeira edição norte-americana de 1938 e Chefes Ruins, Colegas Aloprados e outros Idiotas do Escritório, de Vicky Oliver, do inglês; Recomendo a leitura de minhas mais recentes séries infantis A RAINHA DO MAR, folclore nordestino de origem portuguesa, O CALIFA CEGONHA, de Wilhelm Hauff, em adaptação de Pearl S. Buck, OS TRÊS CONSELHOS, sobre texto enviado por Walter Oliveira Dias, A PRINCESA MALVADA, adaptação da ópera Turandot de Puccini e A BARBA DO DIABO, do folclore polonês. Veja também OS ANÕES DA CLAREIRA, do folclore alemão, O MACACO BRANCO, do folclore chinês e O TAPETE MÁGICO, do folclore persa. Igualmente recomendo a leitura de minhas séries ENXURRADA, SONETO DA CERVEJA e LEITO DA SERPENTE, todos os contos e séries disponíveis nos três endereços abaixo. Aguardo sua visita em meu blog, www.wltradutorepoeta.blogspot.com agora com 82 seguidores... e também em minha escrivaninha em Recanto das Letras > Autores > William Lagos ou ainda em Brasilemversos > Brasilemversos-rs. As séries de poemas e histórias mencionadas podem ser encontradas nestes três sites ou digitadas no Google, que aparecem igualmente como entradas normais. Boa leitura! Agradecimento e abraços do amigo, Bill.

ZODÍACO I a XII

William Lagos, 16/6/2010

ZODÍACO I

A cada vez que lhe fui infiel,

cravei à Lua alfinetes no seu manto,

como lembrete de seu bizarro pranto,

por onde escorre a chuva cor de fel.

A cada vez que respondi com mel,

a mentir fidelidade no meu canto,

ela acolheu-me, no seu abraço santo,

na proteção gentil de seu quartel...

Surgiu assim, em sua astrologia,

a multidão das mil estrelas belas,

que de noite perfurei, em desatino...

E vivo a escutar, em minha agonia

o coro inútil dessas mil estrelas,

a pedirem perdão por meu destino.

ZODÍACO II

Porém a amante, em diferente espanto,

alfinetes cravou-me no burel,

qual punição por meu canto rebel

que só queria submeter, enquanto

não se queria limitar a um só canto;

porém à Lua, em meu orgulho, era infiel:

as mil estrelas empastava em gel,

na serenata silente do acalanto;

por isso me punia e os alfinetes

me penetraram fundo em meu outrora,

castigo seminal por meu pecado;

mas continuei na busca dos confetes

e por despeito, ela me força agora

a lhe pedir perdão pelo meu fado.

ZODÍACO III

Aos filhos que não tive peço agora

perdão por não lhes dar a luz do dia;

quando criança, duzentos pretendia,

só tive seis no palmilhar de meu outrora;

minha semente inutilmente lancei fora

no ventre dessa amante que iludia,

no manto dessa Lua que luzia;

só de pensar, então, minha mente espora

meu zodíaco, que em versos extinguiu-se;

não foi destino controlado por minha mão,

nem foi o resultado de algum vício,

nem por frenologia o sonho viu-se,

que em nada nos resulta a previsão,

exceto a data de retorno de um solstício.

ZODÍACO IV

Essa Lua, morena e alvinitente,

controla muito mais o meu destino

que os doze signos que por humano tino

têm impressionado o povo tão frequente.

A todo horóscopo eu fui indiferente,

primeiro porque o Sol, auriga fino,

já de há muito percorre, quando a pino,

um caminho que, às vezes, nem de rente

percorre as doze mensais constelações;

hoje já falam noutro signo, o da Aranha,

para inseri-lo no caminho da ilusão

que em vão consola tantos corações.

Acredito muito mais, pois me acompanha,

nessa estrela bem no centro de minha mão.

ZODÍACO V

Se olho horóscopo, é mais por brincadeira,

só para ver qual signo escolheram

para mim, porque sempre se perderam,

nunca existe uma escolha bem certeira.

Às vezes, eu sou Libra alvissareira,

com as qualidades que ao signo atribuíram;

outras vezes, Escorpião, para que firam

com maior profundidade tal asneira...

Já me pontificaram os ascendentes,

nessa tolice de triplos decanatos,

em trinta e seis que sejam tais regentes

e que tudo vem da hora em que nasci,

embaralhando assim melhor os fatos:

charlatanice mais pura eu nunca vi!...

ZODÍACO VI

O motivo principal por que o zodíaco

nunca me trouxe sombra de impressão

é que não penso que as estrelas são,

igual afirmam o caldeu e o siríaco

interessadas por meu osso ilíaco

ou qualquer outro; que importância, então,

o meu nascer mereceria sua atenção

mesmo em caráter tão só codicilíaco?

Antes faria um horóscopo diverso:

os doze signos seriam os vulcões,

os terremotos, os penhascos com suas grutas,

os tsunamis, os cometas do universo...

E tão pequeno, mas com tantos furacões,

quero ter o coração com que me escutas...

ZODÍACO VII

O meu signo zodiacal é uma cidade,

pois quase sempre fui criatura urbana:

por entre as ruas, teu coração me abana,

num passo envolto em luz de realidade

que me protege, nessa lei que há-de

conservar-me defendido dessa insana

disputa pela vida, em que se irmana

a fome com a mais pura crueldade.

Os que proclamam o retorno à natureza

mal percebem como são curtas as vidas

dos que moram nas selvas e planuras,

onde é escasso o alimento, com certeza,

passando frio ou calor em suas guaridas,

cedo apisoados por multidão de agruras...

ZODÍACO VIII

Meu signo zodiacal é a humanidade,

pois foi quem realmente influenciou

o meu destino e que me colocou

no ponto inútil de minha opacidade;

meu decanato foi a riograndiosidade,

que de uma forma ou de outra me marcou;

embora eu ande a pé, me cavalgou,

serena e pura, em sua grandiosidade...

Meu ascendente foi a liberalidade

que me levou a tantos outros ajudar,

sem retorno esperar, nem receber;

e nesse signo de literariedade,

sempre música fielmente a escutar,

enquanto passo mil poemas a escrever.

ZODÍACO IX

Pois outro signo sempre foi a melodia;

tive por ela meu destino demarcado;

tive a sorte de viver neste encantado

mundo em que a música mais se difundia,

pois hoje faço o que um rei não poderia

há apenas cem anos, bem guardado

em prateleiras, em geral classificado,

tenho balé, belo quarteto e sinfonia...

Esses prodígios que nas grandes capitais,

são em teatros e concertos realizados,

dependendo de paga e movimento...

Mas aqui eu tenho as gravações originais

que a eletricidade, milagre em seu portento,

me permite escutar sem mais cuidados...

ZODÍACO X

E embora a música eu aprecie tanto,

nunca assisti a uma ópera na vida,

só em formato de oratório oferecida,

porém conservo, nas vagas do bel-canto,

centenas delas, que até me causam pranto,

especialmente quando os coros, de vencida

abrasam o palco inteiro, à plena brida;

com suas notas musicais teço meu manto.

Estão comigo, são como pensamentos

cem concertos, cem cantatas, fantasias,

as grandes obras do humano engenho

e as escolho, ao prazer dos julgamentos...

E és tu, cidade, que tais dons me concedias

desde os tempos do rádio em seu empenho...

ZODÍACO XI

Contudo, a Lua e o Sol me influenciam;

sobre isso não há dúvida, ainda embora

jurar não possa que demarquem minha hora

ou determinem os amanhãs que me veriam;

o Sol me nutre nos raios que anunciam

a nova vida que reveste a aurora;

a cor percebo não ter sido posta fora,

nem devorada por tais gatos que miam,

nem por corujas ou por mil monstros noturnos

que só possuem nome em pesadelos;

mas não me fazem mal; pertenço à noite

e assim partilho do poder de seu açoite,

enquanto os doze zodiacais soturnos

sequer nos sonhos me disponha a vê-los...

ZODÍACO XII

Porém do Sol temo as ondas de calor;

não me seduz por demais a claridade;

pertenço ao signo da eletricidade

e na eletrônica disfarço o meu amor;

bem mais eu amo o Sol, cujo brilhor

empalidece à tarde, em humildade,

ou que na alva me espia, em ingenuidade,

embora fuja ao carrasquear-me seu fulgor...

Mas tem o Sol seu brilho zodiacal,

o mundo a influenciar bem mais que a Lua;

movem-se os homens à luz de seus faróis,

mas meu horóscopo vem de sol mais irreal,

que lambe a pele qual fria lava nua

enquanto as nuvens contemplam girassóis...