OUVE-ME

Aos poucos, vou falar-te deste amor,
desta paixão, que é angústia e tormenta!
Conquanto falo do meu deserto de dor
e da pouca ilusão que me alenta!

Quero dizer-te tanta coisa de momento.
E olvidar o mundo inteiro a minha volta...
Colocar-me entre o sol, o mar e o vento,
expulsar do meu peito essa revolta!

Quero falar-te ainda, dos meus dias,
amargos e vazios, sem carinho
e do meu tempo perdido em fantasia...

Ainda vou lembrar-te desta hora.
Da magia que chega de mansinho
e, sem que eu possa tocá-la, vai-se embora!
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Soneto escrito em 1972, 
um dos primeiros, após chegar 
à grande Metrópole.
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