Duro percurso

I

Quando perdi um amor comecei a correr,

Primeiro dia apenas fiz o antigo caminho,

Pois acreditava ser possível ter o carinho

Da responsável por esse meu triste sofrer.

No segundo dia falei bem comigo, baixinho,

A alma está doente e a quem vou recorrer?

Para me curar novo caminho irei percorrer,

Porque preciso tirar do peito esse espinho.

Então programei fazer uma corrida diária,

Acordar cedo e cuidar primeiro do corpo,

Pois foi o desejo dele que fez sentir pária.

Então virei maratonista para esse escopo,

Percorri muitas estradas da malha viária,

Queria vencer a tristeza e ir a novo topo.

II

E não foi fácil, acordava e nela pensava,

Como um viciado me sentia muito fraco,

Sentia que do peito me tiraram um naco

E o cérebro parecia que tinha uma trava.

Me encontrava no fundo de um buraco,

A tristeza é como máquina que escava

Para mais fundo, e a alma vira escrava,

No corpo e na alma me sentia um caco.

Foi preciso fortalecer para me libertar,

O corpo disciplinar, e mesmo com dor,

Pois do pesadelo precisava despertar.

Nessa disputa íntima ganhei nova cor,

Por muitas vezes juro que quis voltar,

Mas como lidar com enorme amargor?

III

Amigos me viam e nenhuma questão

Perguntavam, não acharam estranho

Que me isolei do ordinário rebanho,

Eu nem queria receber vã sugestão.

Construir novo eu foi o meu ganho,

Aquele antigo coloquei combustão,

Quando chegava perto da exaustão,

E o calor do corpo era como banho,

Que limpava e renovava por dentro,

Cauterizando minhas tristes feridas,

Aos poucos a paixão saiu do centro.

Mesmo forte, o corpo, tenho dúvidas,

Esse novo eu é um novo reencontro

Dos tantos que tive em vindas e idas?

IV

Busco agora reaprender a me gostar,

Não mais me tornar como um refém,

De amor que vai sem ter um porém,

Então assim que pretendo suplantar.

Não devo fiar a felicidade a alguém,

E se fazer de novo vou me assustar,

Mágoa e raivas é que preciso evitar,

Aprender a lidar com triste desdém.

De vez em quando, ainda, desperto,

Penso no antigo amor, mas é calmo,

Não é igual quando estava por perto.

É aprendizado feito palmo a palmo,

Pois ainda não sou um total deserto,

Mesmo sozinho eu não me desalmo.

Le Roy
Enviado por Le Roy em 13/07/2014
Reeditado em 14/07/2014
Código do texto: T4880057
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