DESTE-ME O PARAÍSO

Já cansado da andar sempre sozinho,

Exausto, declinei do meu bordão;

Desfiz-me da mochila, a pus no chão

E me sentei na beira do caminho.

Corpo lasso, cabelo em desalinho,

Sandálias rotas já, sujo o roupão;

Comi o derradeiro e magro pão

E libei o restante do meu vinho.

Senti-me então a escória do planta,

Vagabundo, ridículo e indeciso

Como um ébrio caído na sarjeta.

Mas tu chegaste enfim, e num sorriso

Elevaste-me à altura de um cometa

E de graça me deste o paraíso!