Ser terreno
Quem poderei dizer que sou, se nada
Da minha pele restará um dia?
Posso dizer que sou a poesia
Que vai surgindo desparafusada?
Posso, sem fé, dizer que sou a fria
E podre carne pela terra untada?
Posso dizer que sou a anomalia
Da humana célula recém-podada?
Posso dizer e posso dizer tudo,
Porém se eu digo ou se prossigo mudo
Nada no mundo será tão pequeno,
Será tão feio e será tão medonho
Será tão sujo e será tão tristonho
Quanto o meu pobre e fraco ser terreno.