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LÍNGUA DE FOGO [506]
                         
                                          À Gregório de Matos Guerra

 

Quero a boca lacrar, é vão intento:
presta-se a tesourar meu semelhante.
Venenosa navalha, a mais cortante,
diz tudo o que vomita o pensamento.
 

Mas o vulgo me taxa de birrento...
E, verboso e deveras irritante,
vou jogando as pedradas o bastante,
faço o cesto, depois farei um cento.
 

Todo língua de trapos, só não teimo
com pessoas do peito e do convívio,
mas o mundo martelo e já o queimo.
 

Pois a língua de fogo que carrego,
se calada me desse algum alívio,
eu já ia cortá-la e dar nó-cego.

 

Fort., 11/06/2014.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 11/06/2014
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