LOUCURA DE OFÉLIA
Já não tenho mais teto. Chão desconheço. Vago no abismo.
O abismo desvairado, informe, asfixiante e sublime.
Sublime, pois ao vagar, não tenho em mim a existência,
Ser que não sabe dividir o abismo com a minha loucura.
Impossibilitada de ceder à existência, a totalidade
Dessa matéria que os vermes ainda hão de comer,
entrego o corpo e a alma à loucura. O coração não.
O coração foi arrancado de mim. Vejo-o nos seus dentes.
Entre penumbras, sendo ligeiramente clareado, evidenciando
o que você ingeriu: ódio, vingança, amor e meu coração.
Sendo eu a parte sublime da minha loucura, não interessa
a mim viver entre os sãos. No abismo também há seres.
Eles tinem meu nome, como frescas águas “Ofélia, Ofélia...”
Eu me desmancho e viro oceano. E viro abismo.
Dani Olívia