O BERRO

Um berro violento, indomável, aflito

eclode no peito, desperta, certeiro,

do sono profundo, o resíduo, detrito,

a sobra do sonho de um tempo guerreiro.

O medo sondando, rondando, constrito,

intenta segar o barulho, ceifeiro,

ataca o vibrar da garganta, o tal grito,

mas nada consegue o feroz carniceiro.

Estouram-se os feios de veias e nervos,

se quebram também os bonitos acervos,

não mais embolados no escuro covil.

E aos cacos dispersos, um homem renasce,

a salvo, liberto do sórdido enlace

no edaz desespero que o berro explodiu.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 05/05/2014
Código do texto: T4794916
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