O BERRO
Um berro violento, indomável, aflito
eclode no peito, desperta, certeiro,
do sono profundo, o resíduo, detrito,
a sobra do sonho de um tempo guerreiro.
O medo sondando, rondando, constrito,
intenta segar o barulho, ceifeiro,
ataca o vibrar da garganta, o tal grito,
mas nada consegue o feroz carniceiro.
Estouram-se os feios de veias e nervos,
se quebram também os bonitos acervos,
não mais embolados no escuro covil.
E aos cacos dispersos, um homem renasce,
a salvo, liberto do sórdido enlace
no edaz desespero que o berro explodiu.