MANHÃ NEVOADA
Recolhe-se murcho no lívido exílio
de sua existência manhã nevoada,
em que não afagam ternuras, idílio,
nem florem sementes de amor madrugada.
Os risos felizes da essência enlevada,
que o atavam no belo em santíssimo auxílio
e à nua leveza a lhe erguer a morada,
viraram saudades do tempo rutílio.
Não mais a ilusão de encantados castelos;
lhe resta lamber os sobejos, farelos
das brandas lembranças de quando poesia.
Estúpido, tenta roubar da memória
e dar ao agora seus sóis de vitória,
mas não, nunca mais o esplendor que vivia.