ESTORVO
O coração aprisionado ao peito em brasa
de solidão que doidamente queima a gelos,
se agita forte, bate bruto, espreme, arrasa
as inocentes ilusões e vãos desvelos.
E mesmo irado, quer o gosto bom das casas,
distante do acre risco de árduo desmantelo
nas garras desse corvo urbano que, sem asas,
serpeia ofídico em trevoso pesadelo.
Teimoso, insiste o coração no hospício fosco
de vias, máquinas, concretos da cidade,
mantendo vivo um ente a mais na grei perdida.
Mas finalmente se esvazia ao fado tosco
ao ter sugada sua fraca integridade
e um ente estorvo cessa o fluxo na avenida.