Visão do Calvário
Vaga por tudo um vento mortuário.
Céu-baixo. Claustro. Cada alma é uma vime
Curvada sob o peso vil do crime:
Ignomínia, Paixão, Remorso vário.
Vão pelo céu as contas dum rosário
Que entre os dedos um anjo azul comprime...
Ele nos diz da fé que unge e redime
Entre passagens santas do Sudário.
Ele nos diz. Em tudo está escrito:
No céu, no vento... vede: no granito
Dos túmulos, nas giestas e nas urzes.
Eu mesmo, compassivo, sinto e vejo,
Ah, Sexta-feira Santa, o teu adejo,
E em cada esquina erguerem-se três cruzes...
in Sírius, 2013.