UM GRANDE AMOR
Quando tinha 13 anos, apaixonei-me, seriamente, por um amiguinho. Era fresca!... Quando meu Pai descobriu, caíu "o Carmo e a Trindade" lá em casa. Passei a sofrer todo o tipo de medidas de precaução para que essa paixão não viesse a tornar-se uma forte razão para uma boa sova. Pudera! Uma pirralha de 13 anos, enamorada dum pivete (passe o significado...)? Mas era tão lindo... Era o meu Gary Cooper da época...
E fazia eu um trajecto de uns bons 5kms a pé, com uma fiel amiguinha, hoje minha prima por afinidade, só para trocarmos os nossos bilhetinhos de Amor. Sim, porque se usasse meio de transporte não teria forma de passar pelo Marquês, no Porto, onde ele estaria à minha espera. Que inocentes... Acreditem! Éramos mesmo inocentes...
Foi também nessa idade que começou o meu amor pela poesia. Nessa altura, sabia eu já alguns cantos dos Lusíadas de cor, tal era a minha paixão. E escrevia..., escrevia..., quantas vezes até de madrugada. Que loucura! E foi numa dessas noites que escrevi um soneto dedicado ao nosso grande amor, e que foi publicado no jornal "O Primeiro de Janeiro". Meu Pai, que andava de olhos bem abertos, em cima de nós, nunca comentou o teor do poema. Hoje indago-me..., porquê. Nele eu revelava o segredo do nosso amor um pelo outro e a traição de ter sido descoberta, "apaixonada"... Mas meu Pai venceu. Mais tarde o pai dele mandou-o estudar para a Alemanha e o meu autorizou que eu fosse para Londres. Isso determinou o final duma esperança, mas não do Amor que nos unia.
MISTÉRIO
Grande é o mistério que envolve o meu segredo
pois, mesmo eu, já não sei se o compreendo.
Minha vida, transformada num degredo,
é enorme confusão que não entendo.
Da minha dor culparei somente a vida,
pois cobrindo-a com o véu da ilusão,
escondi-me atrás de si, na falsa lida
em que andava, disfarçada, sem perdão..
E, ao cair esse véu que faz sofrer
todo aquele que confiar em seu poder,
fazendo dele um jardim para sonhar ...
acabei por destruir minha ventura,
não vendo mais o valor, nem a ternura,
que possui um coração que quer amar!
Maria Letra
(Escrito quando tinha 13 anos de idade)
Um dia ele insistiu comigo que o amor dele era maior do que o meu (pudera! Eu tinha cá um respeito ao meu Pai... Sim, porque ele não era pera doce (mas era um querido...)). Então eu escrevi-lhe num dos meus célebres bilhetinhos que ele nunca quis devolver-me):
Se tu te servires duma balança,
p´ra, com cuidado, pesares nossa paixão,
verás tombar com grande diferença,
o prato que contém meu coração!
Ah pois é!!! Dizia eu...