Droga de Amor
Luciana Carrero*
Ao meu amor serei a completude
Daquilo que o universo lhe negou
Na vida individual que é concretude
Tão bem preconizada por Rousseau
Ao meu amor darei primitivismo
Sem máculas sociais e contingências
Na graça pura, sem maniqueísmo
Em clima livre das interferências
Mas nem o paraíso era ideal
Para asilar amor tão natural
Já que abrigava a cobra vil, matreira
Então como esconder-me, em tempo atual
Sem vez para um amor tão anormal?
- Talvez numa fumaça companheira!
* Pela citação abaixo, de Mário Quintana, no segundo parágrafo, no que me diz respeito, confirmo. Em 1966 o grande poeta também disse-me esta sua máxima sobre o poeta e o soneto. E o que Mário disse, para mim é eterno. Comecei com o soneto e com a redondilha, por isso o tema tocou-me diretamente, e os cultivo até hoje, como este aí de cima. Não tão bom quanto deveria, mas faço a minha parte pela minha arte. Poeta na essência, o tempo todo, ninguém é. Mas o soneto está na alma e nunca me falta para o artesanato na minha alegoria do dia a dia. Basta ter um mote ou assunto. Quando vou analisar a obra de um poeta, se não encontro um bom soneto, já fico com o pé atrás. Preconceito ou não, é assim que sinto.
Raul Machado falou: Quanto à tradição da arte poética em língua portuguesa, exposta nos tratados de versificação, lembro o que me disse certa feita, o poeta Mário Quintana: “– Você ainda não construiu um soneto decassílabo? Não? Então ainda não és um poeta. O decassílabo e a redondilha maior (sete silabas) são os versos de ritmo natural da nossa língua. Quem não domina esses ritmos não é, artesanalmente falando, um poeta da língua portuguesa. E já vou te dizendo que fazer um soneto é tão difícil quanto dançar frevo atado numa camisa-de-força. Mas quando se consegue, é um verdadeiro orgasmo.” Santa Sabedoria! - arrematou, Moncks. (Raul Machado, professor e poeta Riograndense, nascido em Caçapava do Sul, em 1931). O referido é verdade e dou fé. Arrematei.
Agradeço ao meu irmão poetinha Joaquim Moncks pela chegada desta citação ao meu Facebook. Texto que aproveitei para acompanhar o meu soneto. Luciana Carrero, produtora cultural, reg 3523, LIC/SEDAC/RS