Loucura
Eu, quando aparo a barba da esquerda,
seguro a lâmina na mão direita,
e alterno as mãos até a barba feita
e o bigode preservado em sua perda.
Tal e qual cada louco com sua mania,
eu cultivo essa mania de ambidestro,
e escrevo, escravo de meu próprio estro,
que eu nem para mim sou boa companhia.
Um dos braços, como o outro, é suicida
e, charlatão das drogas que ministra,
esconde o gesto além da despedida.
Mago e magro que sou de uma só listra,
vou-me abalando inábil pela vida
igualmente na destra e na sinistra.