Mar

Mar, ó mar, que na praia se arrebenta
revolto a se escumar, tão iracundo,
e volta logo ao pélago profundo
da escuridão do ventre da tormenta;

e geme em dor, sozinho, enquanto venta,
(gemido que se ecoa lá no fundo)
perdido, dentro em si, tão errabundo,
enquanto a dura sorte, em vão, lamenta.

E escuma... E escuma... Dobra-se em mil vagas,
gemendo em dor nas pontas das adagas
da solidão maior que em si alberga. 

E quando tudo se aparenta calmo,
(e o seu ruído até parece um salmo),
o vendaval sem fim o açoita e enverga.
 
Brasília, 13 de Março de 2014.

 REALEJO, pg. 75
Sonetos selecionados, pg. 48
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 15/03/2014
Reeditado em 27/06/2020
Código do texto: T4730414
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